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bruna sampaio: "guardo com ternura os momentos vividos no palco"

Foto do escritor: joana miguel menesesjoana miguel meneses

bruna sampaio saiu de guimarães e rumou a londres à procura de um sonho: o teatro. nova iorque surgiu ainda a meio do curso, mas é a cidade que agora a acolhe. à be wave falou do que já conquistou e dos seus maiores sonhos.


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a pergunta da praxe: como percebes que tens aí o bichinho do teatro a nascer?

a paixão pelo teatro já nasceu comigo. em pequena inventava pequenas histórias de teatro, para apresentar à minha família, nos momentos festivos, como o natal. sempre fui criativa e, sempre que podia, dava asas à minha imaginação. por isso, interpretar as mais diversas personagens, para mim era uma verdadeira diversão. esta paixão foi crescendo e, aos 12 anos, comecei a frequentar as aulas de teatro na escola asas de palco, em guimarães. foi a partir daí que percebi que representar podia ser o meu futuro.

 

decides ir para a universidade para londres. portugal não era uma opção?

portugal nunca foi uma opção para mim no que diz respeito a estudar teatro, porque sabia que iria estar a estudar três anos para depois acabar com um diploma que não me iria dar um futuro, ou pelo menos o futuro que eu desejava.

se ficasse a estudar em portugal nunca iria seguir um curso relacionado com o mundo das artes, pois o país não o valoriza nem investe nele e, por isso mesmo, como também não iria ser feliz se seguisse outro curso, optei por seguir o meu caminho em londres.

londres foi a cidade que me abriu portas ao mercado americano e a todas as oportunidades que tenho tido até hoje, que de outra forma nunca as teria tido.

 

ir para londres aos 17 foi uma decisão difícil?

na verdade, não, porque sempre fui determinada quanto ao que queria. londres era o meu sonho, sempre tive um grande fascínio pela cidade, mesmo antes de a visitar. no entanto, não tinha muita noção do que a minha ida para lá implicava e do quão a minha vida ia mudar. só vivendo lá é que percebi quão difícil a minha jornada iria ser, pois estaria sozinha num pais diferente, onde não conhecia ninguém.

contudo, foi sem dúvida a melhor decisão da minha vida. conheci outras facetas minhas que não conhecia, cresci muito em autonomia e independência e aprendi a contar só comigo. assim comecei o capítulo mais bonito da minha vida.

 

como é que os teus pais viram isso?

os meus pais sempre viveram em função de mim e do meu irmão. sempre quiseram o melhor para nós. o importante sempre foi a nossa felicidade! ao contrário de outras realidades, em que os pais não apoiam os filhos a seguir a suas vidas artísticas, porque desejam que eles sejam médicos, advogados,..., os meus pais quiseram apenas que eu fosse feliz. os meus pais foram o meu pilar principal, para que o meu percurso fosse rumo quer a Londres quer a Nova Iorque. Investiram sempre em mim, na minha vida, na minha formação. fizeram com que eu tivesse todo o sucesso que tive na minha vida académica e agora na minha vida profissional. foi graças ao seu apoio e sacrifícios que tive a possibilidade de sonhar. por isso, sinto-me uma privilegiada. são, sem dúvida, a minha estrelinha da sorte. sem eles, sem a educação que me deram e os valores que me transmitiram não estava onde estou hoje, nem me tinha tornado, com apenas 22 anos numa mulher independente.

 

quais foram as principais diferenças que sentiste?

tudo era diferente. a comida, as pessoas, o estilo de vida e até o tempo. tudo era completamente novo e, por isso, tive de me adaptar. mas foi muito enriquecedor querpessoal quer profissionalmente. toda a cultura envolvente na cidade de londres me fascinava. lembro-me de ter ficado deslumbrada, quando vi numa segunda-feira de inverno, à noite, pessoas de todas as idades, das mais novas às mais velhas, a entraremnos teatros. para mim, no mundo das artes, esta foi e é a grande diferença entre portugal e o reino unido. as pessoas efetivamente valorizam e desfrutam da cultura e do talento que o seu país tem.

 

como é que surge, depois, nova iorque?

candidatei-me à universidade com apenas 17 anos, para estudar teatro em londres. apesar de muito nova, sempre soube muito bem aquilo que queria. depois de muito trabalho a preparar a documentação, as audições, os exames de inglês e mais uma série de provas exigidas para ser admitida na universidade, consegui entrar na middlesex university e obter um ba em theatre arts, com uma duração de três anos. depois de admitida, para mim, tudo passou a ser possível de ser concretizado. no final do primeiro ano, ganhei uma bolsa, por ser uma aluna avaliada com distinção e tive a grande oportunidade de ir fazer o segundo ano em nova iorque, na baruch college.

sabia que nova iorque iria surgir na minha vida, mais cedo ou mais tarde, mas nunca pensei que fosse aos 19 anos. foi uma experiência totalmente diferente da de londres, tive de abdicar de um conforto e estilo de vida, que já tinha em londres, porque em nova iorque, apesar da bolsa de estudos, todas as outras despesas eram a cargo dos meus pais. foi lá que realmente percebi o quanto a vida é difícil e o quanto tive de abdicar. mas também foi em nova iorque que mais cresci e aprendi. a cidade ensinou-me a lutar e a reinventar. aprendi a não desistir e a ser vencedora de pequenas, mas grandes conquistas. venci os meus medos e inseguranças, amenizei a solidão, tão presente no coração de todos aqueles que estão longe da família.  

 

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é onde estás hoje. porque é que decides voltar para aí em vez de ficares em londres?

atualmente estou em nova iorque, porque a sinto como a minha cidade, embora londres permaneça para sempre no meu coração como a cidade que me transformou e me fez crescer. tornou-se na minha zona de conforto e já não me oferecia os desafios que eu procurava. para além disso, quando estive em nova iorque a estudar não senti que tivesse aproveitado devidamente a cidade e tudo o que ela tem para oferecer. quando lá estudei, tive de me vir embora dois meses mais cedo do que o previsto, devido à pandemia. senti que tinha deixado muita coisa para fazer, por explorar, por viver.

nova iorque é uma cidade incrível, cheia de pessoas sonhadoras, que deixaram o seu conforto, para lutarem por si. a energia envolvente é surreal, as pessoas trabalham de dia e de noite. é a cidade que nunca dorme. dizem que é o sonho americano.  ainda estou a tentar decifrar o que quer isto dizer. viver nos eua, por si só, não é uma vida fácil, como imigrante muito menos. nova iorque é a cidade dos sonhos e eu voltei para conquistar o meu!

não quer dizer que um dia não volte para londres, mas neste momento nova iorque é a minha cidade de eleição.

 

e há muitas diferenças entre o reino unido e a américa?

sim, penso que a indústria americana abrange mais pessoas de nacionalidades diferentes e revela uma abertura maior de mentalidades. é mais inclusiva. na britânica temos de ter, muitas das vezes, um sotaque britânico para fazer parte de peças de teatro, por exemplo, o que por si só, já está a limitar muita gente, principalmente os imigrantes. isto não acontece na americana. na indústria americana aceitam-nos com o nosso próprio sotaque, pois é isso que nos torna diferentes de todos os outros atores. é aquilo que nos torna especiais. valorizam-nos tal como somos. e isto é fundamental para termos oportunidades de trabalho e para nos sentirmos acolhidos na cidade. sinto que, para mim, é muito mais difícil conseguir um papel numa peça de teatro em londres do que em nova iorque.

no entanto, uma vez que estudei tanto em londres como em nova iorque, posso dizer que qualquer que seja a cidade que um ator escolha para estudar, vai ser sempre um bom investimento na sua formação. são métodos diferentes, mas ambos enriquecedores.

 

qual é o teu maior sonho?

em termos de teatro para mim seria a broadway. já fiz peças de teatro off-off-broadway e já está agendado fazer uma off-broadway. por isso, o próximo passo seria ter o meu broadway debut.

em termos de televisão e cinema gostaria muito de fazer parte de histórias que envolvessem magia, o sobrenatural, ficção científica. acho que seria desafiante ter de representar, imaginando que algo está a acontecer.

por outro lado, também, gostaria muito de ter a experiência de fazer parte de uma história do século xx. seria fascinante incorporar uma personagem totalmente diferente desta época em que vivemos.

estes seriam assim os meus objetivos. mas, de momento, estou a conseguir concretizar outros projetos. assim, o meu maior objetivo, hoje, pode ser diferente do de amanhã. estou focada no presente. naquilo que tenho agora, para que, no futuro, mais oportunidades me possam surgir. sinto-me muito grata pelas oportunidades que tenho tido e pelas pessoas com quem tenho trabalhado.

 

há algum momento ou peça que guardes com mais carinho?

a peça de teatro que guardo com mais carinho é a bela e o monstro, pois foi a minha primeira peça de teatro, tinha apenas 11 anos. lembro-me vivamente de me ter divertido apesar do nervoso miudinho e foi naquele momento que percebi que podia fazer isto para a vida toda. guardo com ternura os momentos vividos no palco, onde senti pela primeira vez a magia de estar com o público, os aplausos e a alegria de quem ali se sente inocentemente importante.

 

já viveste alguma situação engraçada em cima do palco?

as situações mais engraçadas são quando a equipa do som ou da luz se engana, ou seja, se atrasa nas mudanças de luz e nós, os atores, temos de esperar por uma determinada luz para dizermos a nossa fala. ou, então, quando põem a música cedo de mais e nós temos de saltar texto, enfim há de tudo. no momento, é constrangedor e não tem graça, mas passado algum tempo, quando nos lembramos disso,rimo-nos pois são coisas que podem acontecer e desafios que nos põem à prova constantemente com reações sempre diferentes e inesperadas.

 

falando do presente, fala-me um bocadinho das tuas últimas peças.

em fevereiro deste ano, participei simultaneamente emduas peças de ficção científica. "endings" é uma peça curta que faz parte do ecléctica, um espetáculo que apresenta várias formas de arte no palco, e interpretei a personagem chryssie. a peça é sobre uma tripulação em uma expedição espacial que discute tópicos pessoais e científicos. wyla imagina muitos cenários sobre como seu próximo encontro com orlozz poderia terminar, e sua amiga chryssie tenta tranquilizá-la antes da chegada de orlozz. wyla e orlozz debatem sobre a tecnologia que wyla quer liberar, e wyla eventualmente declara que quer começar, não terminar.

"coordinates" é uma peça curta que faz parte do one actfestival no chain theatre, e interpretei a personagem tolisa. a peça é sobre dois astronautas, tolisa e george, que estão viajando pelo espaço. eles descobrem que o mapa que estão usando não faz mais sentido, os parâmetros da nave mudaram e o resto da tripulação desapareceu. eles decidem que precisam procurar manualmente e se perguntam se encontrarão algo.

gostei muito de fazer parte destas duas peças de teatro, pois foram desafiadoras porque tive de trabalhar em duas personagens para projetos diferentes ao mesmo tempo.


já te encontraste com alguém conhecido acidentalmente na rua de nova iorque?

sim já, passou por mim o ator peter dinklage de game ofthrones.


quem foi a pessoa mais conhecida com quem estiveste?

foi a cardi b, encontrei-a no mcdonald’s da times square, num sítio super improvável, mas aconteceu.


qual é o contacto mais conhecido que tens no telemóvel?

nenhum, as pessoas famosas não dão os seus números de telemóvel [risos]

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