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Foto do escritorjoana miguel meneses

d.a.m.a: "felizmente, somos uma banda das pessoas"

à conversa com miguel cristovinho, kasha e miguel coimbra, mergulhamos em memórias de há dez anos. a primeira vez que ouviram uma música dos d.a.m.a na rádio foi a "popless". ainda não havia stories, por isso curtiram só o momento, puseram mais alto, e tentaram perceber se a malta dos carros ao lado também os estava a ouvir.


© be wave

na brincadeira, mas a falar a sério, como é que foi abrir para os one direction e qual é a sensação de eles continuarem e vocês não?

miguel cristovinho. nunca nos fazem grandes perguntas sobre essa data, que já foi há quase dez anos. mas realmente, sempre que se fala nisso… primeiro, parece que foi noutra vida… já passou bué de tempo, mas recordo com bué carinho, foi um dos dias mais incríveis da minha vida.

kasha. estávamos muito nervosos.

miguel cristovinho. éramos muito putos, também não tínhamos muita experiência de palco. acho que nós tínhamos dado menos de vinte concertos antes desse, tínhamos dado para aí treze quando nos convidaram. ainda por cima foi para substituir outra banda, eram os five seconds of summer que iam tocar. nunca me vou esquecer que eu estava em londres e não estava com o telefone, estava a voar e quando aterrei lembro-me que a primeira pessoa que me liga é o kasha a dizer para ir ao facebook. estava toda a gente a mandar comentários maus: “não sei quem é que são vocês”, “não vos queremos a vocês, queremos os five seconds of summer”. o kasha a dizer-me para bloquear os comentários. 

kasha. respondi a duas mil mensagens nesse fim de semana a dizer “acreditem em nós”, a mandar vídeos das nossas atuações.

cristovinho. depois foi incrível porque as pessoas passaram de “queríamos a outra a esta banda” para o inverso. “bora apoiar estes putos jovens portugueses que estão a começar”. e quando nós tocámos, ainda só tínhamos duas músicas relativamente conhecidas que era a “desajeitado” e a “luísa”. essas duas músicas foram logo bem recebidas, as pessoas cantaram imenso. foi assim a primeira sensação de cantar para uma multidão, apesar de não ser uma multidão que estava lá por nossa causa, foi a primeira vez que nós sentimos assim o carinho de um mar de gente. percebemos logo ali que nós queríamos aquilo para resto da vida. 


falaste da “balada do desajeitado” e da “luísa”, mas há agora um single muito recente que está a ser muito acarinhado pelos portugueses, “casa”. como é que foi criar esta que também é a vossa casa?

kasha. foi construído em casa. “casa” somos nós, dentro de nós e as pessoas com quem estamos. foi mesmo assim. um amigo do miguel de sempre, o luís, tinha o início desta canção feita à guitarra. há dois anos começámos a gravar isso com o buba e com outras vozes. este ano pegou-se outra vez, mudamos a perspetiva para isto ser uma canção com o buba, levamos o estúdio para o alentejo, alugamos lá uma casa, fomos jantar umas migas, uns secretos, umas presas e fomos fazer a canção. esta canção nasceu disso, da nossa amizade, da nossa amizade com o bumba e com os outros nossos amigos alentejanos. todos pusemos a mão na massa e todos criamos esta canção que é como tu disseste, felizmente, está a chegar às pessoas.


falaste há dois anos…

miguel cristovinho. a primeira maquete desta música já estava feita. temos muitas coisas que nós fazemos. felizmente, temos um estúdio onde nós podemos trabalhar sem um objetivo específico, não estamos ali a contar as horas. podemos lá estar dez horas e não fazer nada, como podemos estar dez horas e fazer três músicas. então temos muitas maquetes que são coisas que não vão sair ainda. mas nada se perde nada, tudo fica ali num éter que os artistas chamam a gaveta e, de vez em quando, vai-se lá buscar qualquer coisa que se está apetecer fazer.


e é um registo um bocadinho diferente daquilo a que estávamos habituados a ouvir dos d.a.m.a. é algo que é para manter? ainda estão a descobrir?

miguel coimbra. às vezes pergunto se é mesmo registo diferente daquilo a que as pessoas estão habituadas…

miguel cristovinho. é, mas a verdade é que nós já tivemos tantas músicas que as pessoas nos disseram isso. eu lembro-me que quando fizemos a “às vezes” as pessoas disseram que era diferente da “luísa”, quando fizemos a “não faço questão”, as pessoas disseram que era diferente das outras todas. quando fizemos “tempo para quê”, com o player, ritmos africanos com um rapper, também, com o prof jam, que era uma mistura estranha… a verdade é que para nós, o coimbra estava a dizer há bocado, as músicas são uma tela em branco. qualquer música, a única coisa que precisa de ter, é, no final de estar misturada e produzida, ter o selo de aprovação nosso. se nós os três olharmos e pensarmos “adoro esta música”, é indiferente se é uma bachata ou se é um fado.


esta vai buscar um bocadinho das raízes portuguesas.

kasha. o buba é um dos grandes embaixadores desta nova geração de cantores alentejanos. aliás, ele estava a dar aulas de cante. e o cante foi recentemente considerado património da humanidade. e o facto de eles, com toda esta tradição do cante - porque é muito impressionante tu veres miúdos de três/quatro anos a cantar em português muito arcaico, palavras que eles não dizem no seu dia a dia, mas eles conhecem e sabem… juntar toda essa sabedoria e a arte dos alentejanos com a nossa sabedoria… criou-se este mundo novo e esta fusão que não soa a dama, não soa a cante, soa a esta coisa que nós todos fizemos.


e vem provar isso mesmo… nenhuma banda ou cantor tem que ter um único género.

miguel coimbra. não tem nada, ninguém tem nada. as coisas são  o que são. pôr conceitos e aceitá-los como verdades… às vezes contraproducente com a arte em si, porque é bom estar-se aberto e não pôr as coisas em caixas, deixar as coisas fluir e entregarmo-nos ao espírito e o resultado ser o que sai. pensamos muito dessa forma e foi por isso que “casa” foi possível. foi uma entrega ao espírito. não sabemos o que é, sentimos que temos de ir à raiz, fomos a raiz, fomos beber água da fonte e saímos de lá todos mais ricos. 


como é que é o vosso processo criativo?

miguel coimbra. depende de música para música. em “casa” já existia ali um verso e um refrão e uma guitarra. se ouvirem o original com o luís palha a cantar é parecido mas muito mais lento. havia uma vibe e nós fizemos daquilo uma tela em branco. e surgiu aquilo. mas às vezes surge de um poema que nós escrevemos e depois partilhamos, criamos em conjunto e musicamos. outras vezes surge… fazemos umas umas notas ou um groove melódico e a poesia surge depois…


disseram numa entrevista “a nossa casa é o palco”. gostam mais de estar em estúdio a gravar e estar uns com os outros ou preferem estar em palco e estar em contacto com as pessoas?

kasha. são amores diferentes. é tão mágico nós estarmos os três em estúdio e criamos algo que depois vemos dezenas de milhares de pessoas a cantar, como o momento em que estão pessoas a cantar algo que nós fizemos ali os três anos, às duas da manhã no estúdio. é mágico. são amores diferentes, mas que fazem parte do do nosso amor à arte. somos absolutamente abençoados por fazer isso e por ter tantas pessoas a quem as nossas canções chegam.


voltando um bocadinho ao início dos d.a.m.a. o que pretendiam com “deixa-me aclarar-te a mente, amigo”?

miguel coimbra. é curioso porque esse nome cada vez faz mais sentido. ao longo do tempo, a mente que está a ficar mais aclarada constantemente é a nossa no sentido da missão, do que é que nós estamos aqui a fazer, o que é que é a vida, o que é que faz sentido. e este projeto e a ligação que temos à música e à arte e entre nós, e a amizade, é o que acaba por dar um grande sentido, ou um sentido maior, às nossas vidas, uma coisa que é maior que nós próprios. essa é a maior descoberta de todas.

miguel cristovinho. vamos ter a sorte de ter arte que vai ficar para sempre, pelo menos enquanto houver internet… mas aquilo que fica quando tudo chega a um sítio de fim são as relações. acho que isso é a coisa mais importante. a nossa relação entre os três foi aquilo que começou muitas relações importantes para nós. nós somos o coração da maior parte das coisas importantes da nossa vida. 


sentem que o público vos vai acompanhando com a idade ou é sempre um público novo?

miguel cristovinho. a sensação que eu tenho é: nós, felizmente, somos uma banda das pessoas. não temos propriamente aquele faixa etária ou aquelas trinta mil pessoas ou cinquenta que são mesmo fãs a sério e é indiferente, até podemos só lançar uns óculos que elas vão comprar. somos mais as pessoas das famílias. temos pessoas de lares que nos mandam vídeos a cantar as nossas músicas. temos crianças que eu não entendo como é que há crianças… - quando nós aparecemos, eu entendia, mas, hoje em dia, haver ainda crianças que se tocam pelas nossas músicas é uma coisa mais impressionante. sei lá, nós já temos crianças, já estamos nesse ponto. quando nós tínhamos de oito anos ou vinte anos, era mais normal a adolescência ficar tocada com as nossas músicas. hoje em dia é uma surpresa. tentamos fazer música contando que nós somos o primeiro ouvinte, mas a verdade é que parece que temos um ouvido parecido com portugal inteiro, porque as músicas tocam a maior parte das pessoas e isso deixa-nos felizes.


vê a entrevista completa em vídeo:


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