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Foto do escritorbe wave

"crocodile club" aborda o novo espetro político português e a sua recente radicalização à direita

a nova criação do teatro oficina, "crocodile club", com texto e encenação de mickaël de oliveira, estreia a 18 e 19 de outubro, no centro cultural vila flor, em guimarães. a peça é interpretada por afonso santos, bárbara branco, beatriz wellenkamp carretas, fábio coelho, gabriela cavaz, luís araújo e inês castel-branco.

© bruno simão

depois de "ensaio técnico" (2023), "crocodile club" é o novo espetáculo da companhia vimaranense. procura abordar o novo espetro político português e a sua recente radicalização à direita, seguindo a tendência mundial de crescimento da extrema direita e de novos populismos que procuram manipular a insatisfação e acicatar o medo.


a partir de um retiro de fim de semana entre amigos (afonso santos, bárbara branco, beatriz wellenkamp carretas, fábio coelho, gabriela cavaz, luís araújo e inês castel-branco), "crocodile club" é uma peça "sobre os limites da democracia, que convoca uma revisão de imaginários próprios da tradição do cinema de terror, sobre o novo (antigo) espetro político que assombra a europa e o mundo – a extrema-direita ou a direita nacionalista e populista. é também sobre a nova imagem dessa extrema-direita, que se autodefine muitas vezes como 'direita descomplexada', e sobre as maneiras de nos libertarmos da sua palavra vil e violenta", lê-se na sinopse.


a proposta de mickaël de oliveira – que assume atualmente a direção artística do teatro oficina – é tratar esse novo (antigo) espetro através de uma história de amizade, em que se confronta a dimensão do afeto com a ideológica, focando aspetos literários e dramatúrgicos que tentam perceber como esta fala vil se pode desenvolver, e os modos de a enunciar e – de certa forma – denunciar.


o criador de "crocodile club" está certo de que esta ficção – que decorre em portugal – podia acontecer em qualquer parte do mundo. "num contexto em que os países e as suas populações estão tão íntima e digitalmente interligados, é sabido que modelos e ideias políticas migram rapidamente de geografias (agora e desde sempre)", explica. "fala-se de efeito espelho e dominó. a extrema-direita portuguesa é um decalque de tantas outras. os ideários ou ideologias perpassam países. é próprio desse espetro o não conhecer fronteiras", acrescenta.


nesta peça, mickaël de oliveira pretende convocar a linguagem cinematográfica e, com esse recurso, compor, destacar e detalhar a narração e o discurso para efeitos de real (verosimilhança) – como o cinema tão bem consegue produzir. para isso, explora os códigos revisitados do cinema e do terror, até porque "a extrema-direita é dada a fantasmagorias".


os contornos desta ficção levam a uma narrativa que retrata um encontro de um grupo de amigos de longa data, reunidos na casa de campo da anfitriã, líder de um partido de extrema-direita, candidata às eleições legislativas e bem posicionada nas sondagens. o fim de semana serve a humanização da candidata de extrema-direita, através da realização de um minidocumentário com testemunhos dos amigos.


neste espetáculo, a ficção decorre em palco e também numa tela de cinema. mickaël de oliveira afirma que a estrutura é bastante clássica e propôs-se – sem grande pudor – a desenvolver várias linhas narrativas e a tornar a construção de personagem mais complexa e detalhada. relaciona ainda muitos tópicos e linhas temáticas, como a cultura de massas, o conservadorismo moral, o racismo, a indústria do espetáculo e o papel da comunicação social.


a cenografia desta nova produção é um elemento importante do espetáculo e oferece um território para o jogo entre os intérpretes e o realizador-operador de câmara em cena. é o própria quem adianta desde já que "a ideia é construir uma casa em palco. metade da casa é visível pelo espectador, a outra só se revela mediada pelos ecrãs". existe, então, uma relação formal e técnica interdependente entre os dispositivos cenográfico, luminotécnico, sonoro, sonoplástico e vídeo, sendo esta relação um dos desafios do espetáculo. não sendo a primeira vez que trabalha o género do terror e gore, com recurso à câmara e vídeo em livestreaming, mickaël procura com esta opção "voltar àquilo que nos faz arrepiar, ao que nos assusta. de forma primordial, até. a figura do fantasma é poderosa porque nos abre as portas do invisível e das crenças religiosas, culturais e políticas que assentam nele".


no dia 18 de outubro, a estreia absoluta de "crocodile club", no centro cultural vila flor, terá uma conversa pós-espetáculo. a sessão de 19 de outubro contará com interpretação em língua gestual portuguesa.

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