. começou muito cedo no mundo da música, tendo crescido, aliás, rodeado de arte. conhecido por agir, acredita ser um "artista relativamente transversal". apesar de a grande maioria do seu público ser jovem, lançou, recentemente, "cantar carneiros", que talvez fuja um bocadinho ao que estávamos habituados a ouvir.
à be wave falou do seu processo criativo, mas voltou também um bocadinho atrás no tempo. afinal, quantos de nós ouvimos "wella" ou "voltar ao paraíso" antes de "bola de cristal" ou "parte-me o pescoço"?
como é que tem sido a receção ao teu último álbum, "cantar carneiros", e que, se calhar, foge um bocadinho daquilo que estamos habituados a ouvir vindo de ti?
a receção ao meu último álbum tem sido maravilhosa. principalmente junto da minha mãe que finalmente tem um disco meu do qual se pode orgulhar... [risos]
sentes que há um novo público a quem a tua música está a chegar?
espero que sim, acho que me tornei nos últimos anos um artista relativamente transversal. não deixo, ainda assim, de ser um artista para malta mais jovem, digamos. comecei a fazer música muito novo, agora estou relativamente mais velho e obviamente estou a viver e quero falar de outras coisas por isso é normal que as pessoas que se identifiquem mais com elas sejam pessoas da mesma idade ou um bocadinho mais velhas. acho que é natural, não é feito de forma super premeditada, mas é uma evolução natural de o tempo passar e as vivências serem outras.
escreves um bocadinho sobre tudo: tens desde músicas mais românticas a claras críticas sociais. como é que é o teu processo criativo?
escrever para mim é uma catarse e eu sinto a necessidade de me afastar do “mundo real” para compor. diria que este é o essencial do meu processo criativo. mas normalmente é sempre à noite. diria que o meu hábito é, quando a malta vai dormir, o telefone não toca tanto, é aí que me agarro à guitarra ou ao computador a produzir e é aí que, na maioria das vezes, começo a fazer música.
e se tivesses que escolher entre o palco e o estúdio, o que escolhias?
adoro dar concertos, mesmo, mas se me obrigassem a escolher só uma das coisas, provavelmente iria escolher ficar no estúdio. sendo muito notívago, não sou muito boémio, então não sou muito de sair à noite. uma noite perfeita para mim é ter os meus amigos aqui no estúdio e ficarmos a jammar, a produzir, a fazer qualquer coisa... embora, atenção, também adore dar concertos.
escreves muito para outros artistas. sentes falta desse reconhecimento? ou, talvez perguntando de outra forma... acreditas que devia haver mais reconhecimento para produtores, compositores, letristas...?
acho que deveria haver mais reconhecimento, mas acima de tudo penso que parte desse reconhecimento pode e deve vir dos colegas de profissão dizerem ao público que alguém lhes escreve as músicas quando assim acontece.
e escrever para o paulo de carvalho é uma responsabilidade acrescida? [risos]
admiro muito o meu pai, é sabido, mas na verdade não senti essa responsabilidade. porque a única música que ele cantou minha não era para ele - ele é que entrou no quarto quando eu estava a compor a música e disse que a queria cantar e levou-a -. [risos]
nessa lógica, também tens temas com outros artistas - alguns mais conhecidos e outros emergentes -. a música é muito sobre partilha?
sim, eu já partilhei várias vezes que para mim a música é para misturar e a música já me trouxe e deu muitos bons amigos até ao dia de hoje. acho que há espaço para todos e a partilha enriquece.
não consigo falar contigo e não viajar até à minha adolescência. marcaste uma geração e acho que isso ninguém pode negar. quando músicas como "wella" ou "voltar ao paraíso" se tornaram públicas, acreditavas que podias ter o que tens e ser o que és hoje?
não pensava nisso, na altura tinha quinze anos e fazia música mesmo única e exclusivamente como hobby porque gostava mesmo muito de o fazer. não pensava em carreira, o percurso foi-se fazendo com o que tinha na altura de acordo com os objetivos que surgiam. tudo o resto foi gradual mas não foi uma coisa que eu pensei quando comecei.
disseste numa entrevista que acreditas que nunca se ouviu tanta música portuguesa como agora. que caminho é que ainda falta percorrer?
está-se a ouvir mais música portuguesa, mas ainda há um longo caminho para bandas emergentes. e é necessário que as plataformas e as pessoas que são responsáveis por partilhar, mostrar e promover música estejam mais em sintonia com essa vontade de querer ouvir música nova. acredito que há abertura do público para isso, também.
a educação e a cultura deviam andar lado a lado?
acho que as pessoas que recebem educação mas não recebem cultura também, acho que ficam “pobres”. a cultura é uma riqueza essencial de partilhar por todos, a par com a educação.
o agir e o bernardo dão-se bem? [risos]
tem dias. [risos]
Comments